Decepções e a vida adulta

Pai!
Quase 5 anos depois!

Tenho tanto para contar! Eu escrevi um post em 2019 que não havia publicado e nele eu contava a você sobre como eu estava namorando alguém a quase 1 ano na época. Pois então, eu me casei com essa pessoa no início desse ano de 2022! Ah, o quanto eu queria que você estivesse presente…

Sabe, eu me decepcionei muito com uma pessoa que costumava ser muito querida para você. Essa pessoas rejeitou um convite muito especial para participar desse momento da minha vida, e o pior é que por muito tempo essa pessoa era o mais próximo que eu tinha “de você”. Eu ainda estou assimilando as minha emoções em relação ao ocorrido, mas adianto que definitivamente me afastei dessa pessoa. É um baque duro quando se tem tantas expectativas em alguém e essa pessoa te decepciona, não é?! Mas para mim a lição que fica é de que você é insubstituível e de que se alguém me descarta com tanta facilidade assim, deve ser porque o sentimento nunca foi realmente mútuo, e se foi, nunca foi forte o bastante para comigo. Porém estou seguindo o conselho dessa pessoa e “sendo feliz de qualquer jeito”.

Além disso, desde o ano passado tenho vivido alguns momentos difíceis, que estão conectados com traumas do passado. Você saberia do que se trata, eu tenho certeza.
A vida adulta às vezes é um saco, não é? E ainda ter que ser adulto e conviver com a depressão… ah, mas isso você sabe muito bem como é.

Fora isso, estou exercendo uma profissão que gosto e a propósito, estou utilizando o seu escritório como local de trabalho, que tal? Hahaha! Eu e meu esposo demos uma repaginada e pintamos tudo novamente (com uma ajudinha da mãe, é claro). Estou aproveitando muito essa fase e modestia a parte, tenho certeza de que você ficaria muito feliz em saber que eu posso utilizar algo que pertenceu a você para exercer meu trabalho.

Fora isso, eu continuo te amando muito, e sentindo muito a sua falta em momentos importantes como foi o meu casamento, e também me perguntando se vou sentir em todos os outros, como o nascimento de filhos e etc. Eu acredito que a resposta seja um tanto quanto óbvia.
Eu gostaria muito que você pudesse conhecer o meu parceiro de vida, ele é uma pessoa excepcional.
E eu ainda acho que me pareço tanto com você… meu jeito de ser e de pensar, a parsonalidade, tudo.
Você realmente deixou a sua herança aqui.

Obrigada por tanto. Obrigada pela minha vida.
Eu te amo muitíssimo.

Tanta coisa mudou…

Rascunho de 2019

Oi pai!

Tenho tanto a compartilhar com você…

Tanta coisa mudou…

Eu viajei em um intercâmbio voluntário para a Colômbia (sim, minha primeira viagem internacional!) no início de 2018. Conheci uma pessoa muito especial e comecei a namorar… vamos completar um ano de namoro essa semana. Consegui um bolsa para estudar no Canadá e fui por um semestre.

Ah, pai… tanta coisa!

Arrumei um novo emprego…

Me formei.

E no dia em que apresentei meu TCC foi doloroso… eu queria tanto você ali. Porque era um sonho seu também que eu me formasse. Doeu demais não te ter ali para dividir o momento comigo.

Seu rosto

Às vezes nem parece que dói e nem me lembro direito disso… na verdade pouco me lembro. Mas quando me lembro é de repente e vem mesmo para rasgar meu coração.

Às vezes quando menos espero estou aqui, em meio a um turbilhão de outras coisas que não são você e sinto uma saudade enorme de poder olhar para o seu rosto. Observo algumas fotos então, mas isso só reforça a minha vontade de poder te abraçar e me sentir segura, como você sempre fez.

Eu sinto falta de te ver.
Eu sinto falta de te ouvir.
Eu sinto falta de você.

Sensações

É estranho, me assusta e eu não quero imaginar uma vida sem você aqui.

Eu ainda não acredito…

Não posso acreditar.

Você sempre foi a minha segurança maior, apesar de tudo.
Sempre me fez sentir protegida e eu sabia que você me defenderia de qualquer coisa… eu sabia, no fundo sempre soube que você me amava com a sua própria vida.

Eu acho tão injusto e tão precoce… você tinha tantas coisas pra ver, pra viver e pra participar na minha vida.

Sou egoísta por pensar assim? Me perdoe se eu for.

É que dói… e dia sim, dia não, me vem um desejo do fundo da minha alma de que eu possa voltar no tempo e viver tudo outra vez mesmo que tenha que sofrer e chorar outra vez. Mas eu viveria novamente… se simplesmente pudesse reviver os minutos com você. Porque às vezes parece que eu vou ficar louca e que a minha cabeça vai travar de tantas memórias que eu fico repassando sozinha na minha mente, desejando sentir a sensação que você trazia. Desejando que você chegue, chegue, chegue e nunca diga “Tchau! Eu vou embora.” Desejando resgatar os sorrisos, as palavras, as brincadeiras e o seu jeito quase sempre travado de demonstrar amor. Eu não aguento mais lembrar! Eu não aguento mais pensar! E isso parece não ter fim.

Pai, eu não vi um ano se passar… da mesma maneira que não vi a dor passar.

Ela não passou.

Ela não passa.

Eu não sei mais o que esperar.

Eu não sei como voltar no tempo.

Eu estou cansada de abraçar o túmulo.

Eu queria sentir o seu abraço mais uma vez… eu queria olhar nos seus olhos.

Eu queria te ouvir me chamando de “filha, nega do pai”,,, como eu queria!

Eu sinto falta de tudo e não posso ter nada de volta.

Nem você e nem o tempo.

Nada

A verdade é que nada diminui, nada devolve o que eu perdi e isso dói demais. Rasga meu coração. DÓI! Deus,como isso dói! Eu estou dopada, drogada, ou como quer que seja chamada essa realidade paralela que estou tentando criar pra fugir da realidade, mas no fundo nada preenche o que eu perdi.
Eu pareço bem.
Eu não estou.
Eu não durmo, não como direito, não tomo banho às vezes e na maior parte dos dias eu fico trancada dentro de casa e não saio nem para ver a luz do sol.
Eu não tenho vontade.
Eu não tenho você.

Máscara

Certo… às vezes eu nem sei qual é,ou qual foi a minha intenção com esse blog. Falar sobre a minha dor não a diminui, quando ninguém a escuta ou sente. Não é simplesmente falar sobre a minha dor… eu preciso de alguém que possa me ouvir. Eu percebo que dentro de mim aconteceu muito mais do que perder você. Eu não perdi você, eu perdi a mim mesma. E como tenho lidado com isso? Não me dando o tempo e espaço necessários. Eu vivo com poucos amigos para os quais eu diria como me sinto, e mesmo assim quando o faço, eu fico frustrada pela forma como a minha dor é menosprezada. É tudo tão confuso… sabe, eu não queria entrar nos remédios outra vez. Eu me vejo diante das mesmas coisas que tentei me libertar até hoje e tenho que escolher entre elas. Então eu me isolo… só Deus sabe como dói a máscara que uso todos os dias pra sair de casa e tentar mostrar que está tudo bem, porque poupa tempo energia ao invés de tentar falar da minha dor. Não é tudo sobre você, mas é sobre mim também. Eu não sei o que fazer com esses sentimentos. O que fazer com tudo isso? Tocar em frente parece bom, mas machuca a cada passo que eu dou. É uma tristeza que eu não sei explicar.

 

Você Está em Tudo

Você está presente em tudo o que eu faço, em tudo o que eu vejo, em tudo o que eu ouço. Você está presente em todos os cantos dessa casa e em todos os cantos da minha vida. Eu sinto falta das nossas brincadeiras e até de sentir raiva de você às vezes… sinto falta em saber que nunca mais você vai colocar lágrimas nos meus olhos por algum motivo novo e nem sorrisos nos meus lábios. Eu queria tanto abraçar você…
A pior parte é que eu me sinto sozinha. Não sozinha por fora, mas sozinha por dentro. A dor que eu sinto não é algo que dê muito bem para se compartilhar. A maioria das pessoas não sabe como é e na maior parte das vezes nem sabe o que me dizer… é uma dor que eu tenho que viver sozinha, aguentar sozinha… não posso dividir. Eu preciso viver isso, porque o pai era só meu.  Às vezes eu sinto que as pessoas querem estabelecer um prazo para o luto, mas eu não levo a mal, além de se preocuparem comigo, isso também deve ser pelo fato de elas não saberem como é essa dor. Não se estimula um prazo para sentir falta de alguém que esteve com você a vida toda, que te ensinou a andar, falar, andar de bicicleta… a interpretação errada se dá quando olham para alguém pensando que a maior dor é o velório e o enterro,mas não é. A maior dor é olhar a sua volta e perceber que por mais que o seu mundo esteja destruído por dentro, o mundo do lado de fora não para de girar e em dois ou três dias, talvez um mês em casos de maior simpatia, as pessoas vão se esquecer do que aconteceu e continuar a viver suas vidas como se não tivesse acontecido. Mas eu perdi. Perdi mais do que todos eles… só não mais do que você que perdeu todos nós. Eu sinto muito por ter perdido você duas vezes… mas eu tenho certeza de que se você soubesse, nunca teria ido embora, nunca teria ido para longe de mim. Eu acredito no seu amor.
Sabe, às vezes eu só queria poder voltar no tempo e viver os momentos bons outra vez… sentar e fazer piadas, ouvir suas histórias outra vez… poder te tocar mais… te abraçar mais… ouvir você me chamar de “nega do pai”, eu sinto saudade de sentir que tenho você aqui. Sinto falta de te ligar, sinto falta da sua presença e da sua proteção. Eu me sinto desprotegida, desamparada… sei que a minha mãe daria a vida por mim, mas é uma proteção diferente. Eu pareço bem… estou socialmente bem, mas internamente não.